Roberto Gerin

Resenha Marguerite & Julien Roberto Gerin

UM FILME À LA ROMEU E JULIETA

MARGUERITE & JULIEN (110’), direção de Valérie Donzelli, França (2015), é um filme que trata de assunto delicado, pouco visto no cinema, atualmente. Incesto. Neste caso, incesto entre dois irmãos gêmeos, Marguerite e Julien, que emprestam seus nomes ao filme.

O filme é baseado em história real, mas desde o começo deixa claro que se trata de uma versão livre da história ocorrida há alguns séculos. E não se propõe a dizer a verdade nua e crua. Com certos assuntos é melhor não ir a fundo, pois não há a intenção de chocar, nem de provocar discussões. No máximo, causar um certo nojo. Mas nem isso o filme consegue com eficiência, quando ele tira a responsabilidade do incesto, quer dizer, a paixão incontrolável dos jovens irmãos tira o peso do abuso.

O fato em que se baseia o filme ocorre por volta do começo do século XVII, mais precisamente em 1603, quando se dá o desfecho do drama. É uma história de paixão entre dois jovens irmãos… Paixão? Sim, paixão proibida, por isso vai mobilizar família, igreja e sociedade. Os dois jovens resistem a todos os contrários, levando sua decisão até as últimas conseqüências.

Quem for ao cinema para conhecer de perto o que significa vivenciar uma paixão incestuosa, com toda sua carga de sofrimentos, culpas e dores, não vai encontrar o que procura. Talvez a falha narrativa do filme esteja no papel equivocado da mãe, que chega a ponto de apoiar o casal de filhos na sua insana paixão, facilitando-lhes a fuga. Essa atitude da mãe parece esvaziar todo o contexto social moralizante do incesto, conduzindo o desenrolar da narrativa para uma dinâmica dramática de um Romeu e Julieta, onde se prioriza os impulsos da paixão e deixa de lado os riscos morais e sociais do incesto. Não se trata de ser contra ou a favor desta paixão. O que não se pode desconsiderar é o peso social do ato que, infelizmente, pesa mais que chumbo.

Uma direção firme, mas moralmente indefinida. Arrumadinha, afinal, pretende-se agradar a gregos e troianos. É como se o diretor rodasse o filme com um olho do demônio na bilheteria.

Quanto à estética do filme, fica aí um risco para a direção e uma surpresa para o espectador. Helicópteros e carros passeando pelo bucólico interior francês do século XVII. Alguém já viu isso? Se não viu, vale a pena dar uma olhadinha, afinal, para se esconder as verdades nada melhor que se valer da fantasia.

 

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