Até Que O Amor Nos Separe
AMOR versus AMOR
O título Até que o Amor nos Separe não se trata de um título de peça de teatro, no caso, de texto teatral, trata-se, antes, do título do espetáculo que esteve em cartaz no Teatro Goldoni, no mês de fevereiro, e agora retorna em nova temporada, no Teatro Brasília Shopping, nos dias 16, 17, 23 e 24 de março de 2019, e que reúne três esquetes teatrais de autoria de Roberto Gerin, sendo que estes esquetes se intitulam, na ordem, A Mulher do Marido, O Casamento do Marido e, encerrando o espetáculo, O Ciúme da Ciumenta. Já fica estampado de cara que, pelos títulos dos textos, temos uma temática em comum, que é falar das relações de casamento de casais que se digladiam entre o amor e o desamor, numa luta insana e perpétua, pelo menos perpétua enquanto durar o casamento. E não há indícios claros de que o casamento vá terminar. Talvez este seja o suspense que sustenta a agonia de relações prestes a se desmoronarem. Terminamos ou não terminamos? Não, ainda não é hora de fazer as malas. Ainda resta uma esperança. Que esperança? O amor. Ah, sim, o amor! Foi onde tudo começou, no amor, e mesmo que ele não mais exista – será? -, ele continua sendo uma miragem. Precisamos, para que o casamento não se desequilibre e caia no abismo, precisamos, sim, nos alimentarmos da ideia de que o amor pode reexistir. É uma chama invisível, mas que ainda não se apagou. Há, portanto, para o casal, a possibilidade de reacender esta chama. E é quando, reacendida a esperança, seja por uma fotografia, uma lembrança, um jantar, o casal poderá olhar para o casamento e ter a quase certeza de que o amor ainda resiste, se não para uni-los, pelo menos para evitar a separação.
São três os esquetes teatrais, como dito. O primeiro conta a relação de Cândida com seu marido Cornélio. Cândida fora abandonada pelo antigo noivo, Alberto, já que este se casa com Verônica, a melhor amiga da traída Cândida. Cândida então se casa com Cornélio, homem de índole boa, mas indeciso e de atitudes passivas. O esquete trata do momento em que Cândida vê seu desejo de vingança realizado. Alberto descobre que Verônica o trai, e após muita pancadaria, ele pede a separação. É quando Cândida telefona para o marido e o obriga a comprar duas garrafas de vinho para comemorarem, em dose dupla, a tão esperada notícia.
O segundo esquete traz Poderosina, uma mulher que sabe o que quer e não mede esforços para levar o jogo de poder às últimas consequências. E seu interesse é tão somente um. Manter o casamento. Para tanto, usa a tática de comemorar datas especiais como forma de reencontrar o perdido romantismo. Diante das rebeldias e grosserias do marido, Crueldino, que trata o casamento como se fosse o último dos infernos, Poderosina traz revelações inesperadas, o que impossibilita a Crueldino concretizar sua decisão de se separar.
E o terceiro esquete. Sonsino, após mais uma noitada de cervejas com os amigos, e as amigas, entra em casa às duas horas da manhã e encontra a mulher, Pacífica, furiosa. Ela já sabe que no porta-luvas do carro do marido tem uma calcinha. Mas Sonsino não lhe entrega a chave do carro para que ela desça e se certifique da prova da traição. Sonsino nega tudo, até fotografia. Mas mesmo negando, recusa-se a entregar a chave. Por quê?
Não existe relação a um. E muito menos relação fracassada em que o culpado seja um. Se é relação amorosa, será sempre a dois, com os bônus e os ônus. Mas, pela cultura e por tudo que é milenar na relação homem e mulher, as diferenças de forças e de papeis estarão pré-estabelecidas. Óbvio, esse jogo se estende para todos os gêneros. Falamos aqui de homem e mulher por se tratar de casais héteros. A tônica do que se verá no palco não é essencialmente o machismo. E muito menos o empoderamento feminino. O que se verá é algo real, realíssimo, que é quando o homem e a mulher se fazem humanos, portanto, frágeis. É disto que trata o espetáculo. Na busca da felicidade, nos fragilizamos. A dois.
Conheça O Voo da Pipa, uma obra de Roberto Gerin.