Roberto Gerin

Resenha Cidadã de Segunda Classe, por Roberto Gerin

JAMAIS ESMORECER, EIS O LEMA!

Em CIDADÃ DE SEGUNDA CLASSE, tradução de Heloisa Jahn, editora Dublinense, 251 pg., a escritora nigeriana Buchi Emecheta nos apresenta, em estilo cativante, a heroica trajetória da mulher, esposa e mãe Adah. Adah é a mulher que vê no estudo e na formação pessoal um caminho seguro para escapar ao modelo de miséria e submissão a que as mulheres nigerianas estão condenadas. Adah sonha em imigrar para a Inglaterra, a terra prometida, de que a Nigéria é uma ex-colônia. Imigrar é a forma de se livrar da terrível opressão cultural conferida às mulheres nigerianas. Com as economias de um bom emprego, Adah finalmente embarca em um navio, com seus dois filhos pequenos, em direção ao porto de Liverpool. De Liverpool ela ruma para Londres, onde o marido a espera. Mas, ao chegar a Londres, o que ela encontra não é bem uma terra prometida.

Uma mulher que acredita em si, apesar de negra e estrangeira.

Somados já aos problemas culturais trazidos de seu país de origem, e que se configurariam na relação opressiva e abusiva com o marido nigeriano, o qual exige que ela o sustente enquanto ele estuda para conseguir uma bolsa e se formar em direito, Adah ainda encontra pelas ruas a xenofobia e o racismo, dois preconceitos com os quais não estava acostumada a conviver. Assim ela inicia sua trajetória em busca de um lugar ao sol, sem esmorecer, lidando com os problemas cotidianos de criar cinco filhos, enquanto tenta se livrar do marido explorador. E vai se ajustando o quanto pode à forma de vida londrina, onde, seja qual for seu emprego e condições intelectuais privilegiadas, será sempre vista como uma cidadã de segunda classe.

Em suma. Convido o leitor a entrar em contato com a deliciosa literatura de Buchi Emecheta que, com base em um estilo empático, sem demonstrar rancores, esmiúça os sofrimentos e as esperanças de uma mulher que acredita em si, apesar de negra e estrangeira, e que quer para seus filhos o usufruto da dignidade em um país que lhes é estranho e arredio. Comovente.

 

Conheça O Voo da Pipa, uma obra de Roberto Gerin.

 

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