Roberto Gerin

Artigo Quem rouba uma agulha rouba um avião, por Roberto Gerin

QUEM ROUBA UMA AGULHA ROUBA UM AVIÃO

Todos os motoristas sabem que a seta do carro é um item de segurança. E utilizá-la é um gesto de respeito no trânsito.
Eu estava pensando sobre isso quando trafegava por uma avenida movimentada — não vou dizer o nome da avenida para não denunciar o infrator —, quando um carro — não vou revelar a cor nem a marca; o máximo que posso dizer é que na placa constava a letra “A” — tomou repentinamente o lugar à minha frente. Sem avisar, sem dar seta indicando que mudaria de direção. Simplesmente entrou, obrigando-me a rápida freada. Sem compromisso, resolvi seguir o infrator, com o capricho de anotar quantas vezes ele cometeria a mesma infração.
Infrações de trânsito continuadas podem corresponder a apenas uma multa. Isso quer dizer que as treze infrações cometidas pelo meu infrator poderiam equivaler a apenas uma!

Virou à esquerda, sem dar seta (valor da multa: R$ 195,23).

E sigo em seu encalço.

Não me interessa saber para onde ele vai.

Não me interessa saber o gênero e a idade.

Só me interessa contar quantas infrações ele vai cometer nos próximos sete minutos.

Vou atento a seus movimentos, porque sei que a qualquer instante haverá abrupta mudança de direção. E houve, no cruzamento com a rua “B”. Virou à esquerda, sem dar seta (valor da multa: R$ 195,23), obrigando-me, para segui-lo, a fazer manobra perigosa. Logo adiante, mudou de pista, à direita. Terceira infração (195,23). O carro que trafegava a meu lado me impediu de também mudar de pista. Precisei me posicionar atrás dele, o que me trouxe dificuldades para controlar meu infrator, que ia à frente. Virou à direita, na rua “C”. Quarta infração (195,23). O carro que ia à minha frente também quebrou à direita, e também sem dar a seta. Segui-os.

Que quem burla uma simples lei de trânsito burla a Constituição.

E assim meu infrator foi adiante, agora pela rua “D” (195,23), depois pela rua “E” (195,23), e eu já contava doze infrações quando um furgão se interpôs entre nós. A lentidão do veículo me atrasou e perdi meu infrator de vista. Mas ainda pude vê-lo lá adiante — quando o furgão virou à direita (sem dar seta) — quebrar para a esquerda (195,23) e entrar na rua “M”. Contabilizei a décima terceira infração, virei à direita e tomei o rumo de casa.

Alguém já disse que “quem rouba uma agulha rouba um avião”. Que quem burla uma simples lei de trânsito burla a Constituição. Isso tudo eu ouvi. As conclusões, deixo-as para quem queira tirá-las. De minha parte, não posso e nem pretendo denunciar o meu infrator. Apenas dou mais uma dica. Ele trafega pelas avenidas de Brasília.

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