Roberto Gerin

Artigo A opinião e o fato, por Roberto Gerin

A OPINIÃO E O FATO

Quem não adora sentar-se à mesa de um boteco, ou à mesa da cozinha de casa, ou nas redes sociais, e se pôr a emitir opiniões sobre isso, sobre aquilo? Repetindo ideias alheias, ou reforçando mantras que carregamos dentro de nós como se fossem nossa bíblia? A verdade é que gostamos de dar opinião. Faz parte do nosso dia a dia. Quando emitimos uma, nos sentimos ocupando o centro do mundo, não é isso que acontece? A ponto de admitirmos que basta a opinião, não o fato. Esse só existirá a partir do que pensarmos a respeito dele.

Mas, pergunta-se. O que fazer com o fato sobre o qual estamos dando nossa sincera opinião? Por exemplo: diante do que aconteceu com Genivaldo, o rapaz que teve morte por asfixia dentro de uma viatura da PRF — um fato presenciado por sinceras câmeras! —, o que temos a opinar a respeito?

Mais do que isso. O fato gerado pelo assassinato asfixiante de Genivaldo, cabe nele opinião?

Que opinião?

Os ouvidos calibram a moral de acordo com o que querem ouvir.

Ao colocar o fato sob o crivo do nosso pensamento e, quiçá, do nosso gosto pessoal, não estaríamos transformando esse fato em mais um coadjuvante da realidade?

As opiniões despersonalizam os fatos, tirando destes sua natureza moral e ética. Vira apenas um assunto.

O que nos resta então fazer diante de mais essa barbárie? Ou não é barbárie a morte de Genivaldo? (Meu Deus, estou dando opinião!)

Os ouvidos calibram a moral de acordo com o que querem ouvir. Portanto, a moral não estará representada pelos costumes civilizatórios construídos, por milênios, por meio de experiências humanas. Em tempos modernos, em que a sociedade perdeu o controle de si mesma, a moral não é mais mandamento. Ela se submeterá às circunstâncias urdidas nos botecos, nas cozinhas e nas redes sociais. E o fato Genivaldo será mais um de tantos outros que foram sequestrados pelas nossas opiniões. Perdemos de vista a tragédia — incensada por fartos lamentos e estéreis indignações —, tiramos dela o balizamento moral que rege as condutas humanas. Pena, porque a moral seria a única entidade capaz de dar à tragédia sua real dimensão.

Eis uma sugestão. Já que não sabemos como agir diante do fato, já que não sabemos dar ao fato seu justo julgamento, sopesando com a balança da justiça os papéis dos agentes nele envolvidos, sugiro evitarmos dar opinião, posto que, quanto mais opinião dermos, mais estaremos nos afastando da verdade. Quer dizer, do fato.

 

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