
Literatura e ar são dois elementos da natureza que preciso respirar segundo a segundo para garantir minha sobrevivência. Um pouco de exagero, apenas para mostrar o quanto minha opção por ser escritor é um sonho de vida, que persigo desde meus dez anos, quando talvez tenha escrito minhas primeiras letras com uma certa pretensão literária. A partir de então iniciei a busca do meu Gólgota, onde sabia teria que me sacrificar em troca de paz e realização. Outro exagero para dizer que colocamos sofrimento e amor em tudo aquilo que amamos fazer.
O grande desafio de ser escritor – artista – é domar a forma, trazê-la inspirada, mas receptiva, que nela consigamos colocar com plenitude o que pensamos e sentimos. É uma dificuldade e tanto, principalmente quando não sabemos distinguir com clareza a forma do conteúdo ou o conteúdo da forma; e mais, quando não percebemos que forma o conteúdo está nos pedindo, empurramos uma quando ele está precisando de outra. Esse é um erro fatal! O aprendizado em lidar com estas duas instâncias talvez seja a maior transpiração exigida, sem tréguas, do artista, desde o momento em que ele se senta e se põe a escrever. Ou pintar. Ou esculpir. Ou…
Iniciei minhas buscas como escritor na prosa, onde fui procurando inventar, após a leitura dos grandes clássicos, e em trabalho diário de escrita, meu próprio estilo. Mas foi na dramaturgia, outro gênero, outro ritmo, outras exigências técnicas, mais cruéis, que me encontrei em toda minha força criativa, talvez o meu verdadeiro Gólgota! A escrita, assim como toda manifestação pessoal transformada em algo palpável, é uma forma de se perceber no mundo, de moldar a realidade a partir de sensações que fomos acumulando e que se transmudam em algo incompreensivelmente belo. Por isso arte é feita para sentir e não para explicar. Venero todo artista que se doa a seu sonho.