Capitão Fantástico
LIBERDADE, UM CONCEITO BASTANTE PESSOAL
CAPITÃO FANTÁSTICO (95’), direção de Matt Ross, EUA (2016), é uma alegoria à liberdade de escolher fazer o que se quer, ou apenas tão somente optar por um estilo de vida. Aliás, escolher é o começo e o fim de qualquer atitude humana. Desde que se esteja disposto a assumir as consequências. Se estiver, podemos dizer que está aí uma atitude libertária. E ser libertário não é ser do contra. É apenas não querer ser algumas coisas que todo mundo acha que tem que ser, ou a que está acostumado a ser. Este é o ponto central do consistente roteiro de Capitão Fantástico: recriar uma forma de viver, isso é, tentar dar à vida outros sentidos.
Pai e mãe se isolam numa floresta, juntamente com seus seis filhos, e ali passam a vida comendo só comida orgânica, lendo só livros de papel, vestindo roupas tidas como esdrúxulas, totalmente fora do que ditam as modas, passam boa parte do tempo se dedicando a aventuras, muitas delas perigosas, em que o preparo físico e as habilidades mentais são fundamentais e, portanto, devem ser ostensivamente treinadas. Tudo é determinado pelo pai, o capitão fantástico (Viggo Mortensen), que pode ser enquadrado em duas facetas. Uma, o durão convicto, no seu sentido libertário; a outra, o terno, no sentido de dividir com os filhos a vida que quer para si e que sonha para eles. Não há dúvidas, não há questionamentos. Vida que segue.
O filme, logo no seu começo, toma um rumo inesperado quando a mãe simplesmente desaparece. Muito doente, havia retornado à civilização para se cuidar. Tão ocupados estavam com as extenuantes atividades físico-filosóficas, que os filhos nem deram pela falta da mãe, isto é, por um tempinho, até que alguém dá o grito. Cadê ela? E recebem de volta a notícia de que a mãe havia morrido e que seria enterrada, contrariando seu desejo de ser cremada, e que suas cinzas fossem jogadas numa latrina e sumidas no esgoto após a descarga.
Isto é comédia ou drama?
Não é um roteiro que apresenta um conflito, prepara um anticlímax e nos surpreende com um desfecho. Nada disso. Após tomarem conhecimento da morte da mãe e do seu desejo de virar cinzas, e depois de muito insistir com o pai durão, este pai, agora terno, coloca os filhos no ônibus da família, uma casa ambulante, e vão para a cidade resgatar o corpo da mãe. A longa viagem até a civilização, com seus salamaleques, choques de cultura e esquisitices, e mais a revolta do avô materno ao ver seus netos “naquela situação”, a excelente atuação de todo o elenco, sem exceção, e ainda a mão sensível do diretor em colocar o espectador num mundo no qual se sentirá sempre um estranho, mas do qual não consegue tirar os olhos, tudo isso faz do filme um hino a uma liberdade que sempre desejamos para nós, mas que sempre nos parece alcançável apenas no outro, geralmente, um esquisitão.
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