Cadê as Ministras?
A composição do ministério do atual presidente da República, Michel Temer, tem levado muita gente, aqui dentro deste país, e até lá fora, a fazer a mítica pergunta: — Cadê a ministra? Onde buscar explicações para placar tão inusitado, em se tratando de tempos modernos: 23 a zero! Placar impensável numa civilização, diria, honestamente sã, querendo dizer, igualitária. E aí? Buscar explicações novas para a descabida composição do ministério do não eleito presidente Temer, ou recorrer às antigas? A meu ver, não existe explicação nova. A não ser uma. Culpa-se Dilma, mulher recém destronada, pelas atuais mazelas da nação. Portanto, xô mulheres! Cobras! Acendam a fogueira!
Mas, e o que aconteceu com as mulheres do PSDB, que lutaram para derrubar Dilma e o PT? Que fizeram vigílias, que rezaram debaixo das batinas dos padres, que beijaram os pés de barro dos seus maridos, e agora, preteridas, estão reclamando a justa participação no poder? E nós — gritam elas —, por que ficamos de fora? Acredito que também estejam buscando explicações para tamanha, mas previsível, goleada. Só que elas foram goleadas dentro da própria casa. Em seu próprio Maracanã.
Mas vamos às explicações para o 23 a 0. Minha mente também é de ocasião, e eu gosto de flertar com o imponderável das circunstâncias. Mas, não podemos falar da mulher sem falar da trajetória dos séculos, onde a dominação e o desprezo subjugam a genitália e só preservam o útero porque ele é um instrumento necessário.
Vamos às hipóteses.
Primeira hipótese para os 23 a zero. Machismo em sua origem milenar. Mulher não vai à guerra. E nós estamos em tempo de guerra! Portanto, às mulheres, originariamente fúteis e imprevisíveis, não cabe tamanha responsabilidade num momento tão sério por que passa o país. A eficiência e a circunspecção cabem ao homem. À mulher, a intriga e a incerteza.
Segunda hipótese. Na pressa para compor o gabinete da inteligência salvadora, não se vislumbrou nenhuma mulher competente para se somar aos neurônios masculinos, fartamente disponíveis nas hostes dos partidos de ocasião. Afinal, para convencer um neurônio feminino leva-se muito tempo. Melhor, então, ficarem elas em casa, cuidando dos herdeirinhos.
Terceira hipótese para o 23 a zero. A república dos machos do pinto murcho nasceu sob a égide de uma Marcela que sabe, via revista VEJA, colocar a mulher no seu devido lugar.
Quarta hipótese. Não tenho mais hipóteses! Esgotei-me, porque tal placar ultrapassa o impensável, contraria a história, desfigura a realidade, achincalha o bom senso. Recorro-me, portanto, a uma mulher que soube, como poucas, descrever a mulher em seu tempo. Cedamos a tribuna a Simone de Beauvoir!
“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que se manter vigilante durante toda a sua vida.”
Mulheres, orai e vigiai! As florestas não dispensam os seus lobos.