Roberto Gerin

O Voo da Pipa é o retrato de uma época em que as angústias e incertezas geradas pela pandemia do coronavírus atravessaram o caminho de todos os seres viventes. E no caminho muitos encontraram suas dores pela perda de entes queridos. Esta tragédia universal é apenas o pano de fundo para dar voz ao protagonista-narrador, que acaba de perder a esposa, em fevereiro de 2020. No mês seguinte, é declarada a pandemia. As três filhas, abaladas com a morte recente da mãe, convencem o pai a se isolar em um apartamento, na esperança de que tudo, em breve, voltará ao normal.
No isolamento, o protagonista encontra na esposa a sua interlocutora, com quem passa a conversar. Os relatos do seu diário estão impregnados do afeto que nutre pelas filhas e neta, enquanto se consola em derramar declarações de amor à eterna amada. Aos poucos, atormentado pela saudade, cresce nele a ideia de ir ao encontro da esposa — passa a alimentar o desejo de morte.
Deste desejo surge o dilema que permeará toda a narrativa. Ao querer morrer, ele estará abandonando as filhas que tanto ama. Ao querer viver, estará traindo seu amor pela esposa, afinal, querer viver é deixar de amá-la! Seja qual for a sua decisão — viver ou morrer —, ele estará inevitavelmente abandonando alguém que ama.
Relato sincero e poético de uma realidade onde a única vivência é o amor. Tudo poderá ser destruído, menos a nossa capacidade de amar. Preservemos o amor, posto que, depois da destruição, será o único bem que nos restará. Este é o cântico que ecoa das páginas deste pungente romance — O Voo da Pipa.

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