16 jan, 2021
Será que Dilma vai mesmo precisar tomar cicuta? Cicuta é um veneno fatal, utilizado na Grécia antiga, como forma de execução dos condenados à morte. A personalidade mais famosa a ter bebido cicuta foi Sócrates, o filósofo. Não estamos aqui, óbvio, para fazer comparações entre Dilma e Sócrates. Quero apenas discorrer um pouco sobre a situação da democracia ateniense daquela época, e fazer um paralelo com a democracia brasileira de hoje.
Sócrates foi condenado à morte por ameaçar a democracia ateniense. O que era ele? Um corrupto? Um conspirador? Um traidor? Não. Apenas um homem bem acima do seu tempo, cujo legado filosófico e humano percorreu os séculos e chegou até nós. Diante da condenação, Sócrates tinha a possibilidade de fugir de Atenas. Preferiu ficar e morrer “cicutado”. Com a seguinte justificativa. Foi condenado por um tribunal representativo (legal), e mesmo que a sentença esteja errada e seja absurda, tem-se que fazer cumprir a legalidade! Um suicida, já que podia fugir?
Ilustro um fato. General ateniense na sua juventude, após derrota em uma batalha, Sócrates bateu em retirada com os poucos soldados que lhe restaram vivos. Chegando a Atenas, foi julgado por não ter cumprido o costume, o de que os soldados vivos tinham que enterrar os soldados mortos. Deixá-los insepultos era crime. E Sócrates saiu-se com esta. Se ficássemos para enterrar nossos soldados, também morreríamos, e assim não haveria vivos para enterrar os mortos.
Nos próximos meses, o Senado, casa de mulheres e de homens notadamente probos, terá que julgar Dilma. E não poderá cometer erro.
Em sessão do dia 12 de maio de 2016, foi aberto o processo de impeachment, com o afastamento da presidenta. Até aí tudo bem. Que se busque a verdade. Que verdade? A verdade das pedaladas. Pois é. Um lado diz que é crime, e aí se incluem juristas renomados. O outro lado diz que não é, e aí também se incluem juristas renomados. E agora? Se há dúvida, pode haver crime? Caberá ao senado desatar o nó. E terá que fazê-lo com total precisão e justiça. Este é seu grande desafio, acabar com esta confusão atordoante do que é e do que não é. Se o senado provar que é, Dilma será destituída do cargo e o Brasil continuará sendo um país com democracia. Se provar que pedalar não é crime, ela retornará à presidência, e o Brasil continuará sendo um país com democracia.
Mas, e se o senado não chegar à verdade alguma, confirmando este imbróglio político-midiático-esquizofrênico que divide o país? Bem. Neste caso, retornaremos à Atenas de Sócrates. Dilma, que não quis fugir (renunciar), terá que beber a cicuta. E o Brasil destruirá o seu tempo de hoje, atirando esse pedaço da sua história no limbo. Ótimo que essa coisa toda fique no limbo. Assim ninguém ficará sabendo que Dilma tomou cicuta.