Fome não é fake news
FOME NÃO É FAKE NEWS
A última pesquisa de intenção de votos feita pelo Datafolha revela um fato incontestável. A fome não é fake news. Ela existe. Está nos lares e nas ruas Brasil afora. Na geladeira vazia e nas portas dos supermercados. Não há retórica, não há malabarismo linguístico, não há mentira habilmente arquitetada que camufle essa realidade. Tampouco a pesquisa do Datafolha conseguiu disfarçá-la. Quem decidirá nas urnas será a frágil saúde econômica dos brasileiros, transformada, para estes, em desemprego e fome.
Buscar razões do fracasso na gestão das políticas econômicas seria um exercício de análise que não caberia nesse breve artigo.
É sabido que a crise econômica foi potencializada pela pandemia e, na sequência, pela Guerra da Ucrânia. No entanto, nos agarrarmos a esses dois vetores externos para justificar o descalabro econômico seria minimizar a incompetência do governo em colocar em prática suas confusas ideias macroeconômicas. A Esplanada, com seus ministérios municiados de receitas administrativas improvisadas, transformou-se em terra de ninguém.
Fazer motosseatas sem capacete parece ser sua régua moral, bem ao feitio de um comandante despreparado e desagregador.
Necessitamos, antes de tudo, de um governo munido de honestidade cívica, disposto a encarar a crise como um fenômeno que atinge todos os brasileiros. Espera-se do Presidente a acertada atitude de conclamar a sociedade, representada por seus setores organizados, a buscar caminhos para frear a inflação, o desemprego e a pobreza — três elementos virais de qualquer crise econômica. Entretanto, enclausurado na redoma da prepotência ideológica, e com os dois olhos avidamente voltados para a reeleição, o Presidente prefere enfiar a cabeça na lama da mentira a exercer seu papel de agente catalizador de soluções da crise. Fazer motosseatas sem capacete parece ser sua régua moral, bem ao feitio de um comandante despreparado e desagregador.
Como nos revela a pesquisa de intenção de votos, divulgada dia 26 de maio de 2022, o Presidente vem construindo para si seu cadafalso eleitoral. Resta-nos esperar as eleições para que o algoz das urnas baixe o cutelo sobre seu pescoço. Tudo indica, se nenhum milagre ocorrer — não existem milagres em gestão econômica —, que ninguém virá salvá-lo da degola. O milagre, se existisse, passaria pela competência em gerar fatos econômicos positivos e não na competência em produzir mentiras. Fake news podem enganar os devotos, mas não os que têm que viver com seus estômagos vazios. Que as urnas rejeitem a fome.
Conheça O Voo da Pipa, uma obra de Roberto Gerin.